sábado, 10 de dezembro de 2011

Gal e Caetano: Recanto

Recanto, que no dicionário tem como definição canto escondido, é o nome do mais novo disco da cantora Gal Costa, que já está à venda desde o último dia 6.

Seu produtor? Ninguém menos do que Caetano Veloso. Ao assistir a um show da cantora em Lisboa teve a idéia de produzir com o filho, Moreno Veloso, um CD com roupagem eletrônica.

O nome do disco é um tanto contraditório, porque de canto escondido não tem nada. Os dois grandes nomes do tropicalismo estão tentando mais uma vez inovar, mas desta vez misturaram-se ao que já tem acontecido com a música atual. Pegaram carona ao invés de re-reinventar o caminho e preservarem-se no recanto.

As onze composições são de Caetano, sendo apenas duas não inéditas. Todas as outras o compositor fez pensando na voz de Gal. Voz esta que abusava do falsete nos anos 60. Neste álbum a cantora assumiu um registro um pouco menos agudo.

Todas as músicas, com exceção de uma, abusam de sons eletrônicos e passaram pelo programa Auto-Tune (afinador de vozes), sintetizadores, programações e baterias eletrônicas. A mistura da batida do funk carioca também foi um recurso muito utilizado.

Miami Maculelê representa bem a falta de referência que senti quando ouvi esse novo trabalho de dois grandes nomes da música popular brasileira. Um trecho da letra ilustra o que estou falando, depois a música toda para que não restem dúvidas:

Era o bonde do prazer
Sacanagem sem romance
Por que eu fui meter você?

Era dança de alegria
Putaria e coisa e tal
Por que você vem com santo,
Anjo e galera do mal?

Cadê a sutileza que mesmo em épocas de censura na ditadura militar o compositor buscava nas letras? Onde fica a voz suave de Gal sem artifícios do auto-tune ou qualquer software que valha? A voz aguda, firme, precisa. Cadê o jogos de palavras criativamente empregados?

Na entrevista coletiva que os artistas deram à imprensa em São Paulo a cantora fala com orgulho sobre sua personalidade de inovar e defende Chico Buarque sobre as críticas de ele ser conservador neste sentido: “Ele é genial. É que eu e Caetano temos essa coisa de romper que o Chico não tem. É uma história diferente. As pessoas têm que entender e respeitar isso. Tem essa coisa de cobrança, mas cada um tem um jeito de fazer as coisas. Caetano, por exemplo, pode tocar com orquestra e depois com um trio de rock. A cobrança é um negócio esquisito”.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Música Dita, dura?

Todos estão cansados de saber que a maior efervescência da produção musical brasileira aconteceu na era dos festivais. Em que o tropicalismo surge, a música de Geraldo Vandré vira hino nacional e Chico Buarque mesmo sendo considerado conservador pela vanguarda tropicalista, produz músicas que se tornam armas contra a repressão na ditadura militar.
Os festivais eram a principal vitrine da MPB e retratava com clareza e fervor a condição social do país.
A indústria cultural já mostrava suas garras e nada passava longe do mercado musical. Porém existia uma grande diferença dos dias atuais: todos eram, mesmo que sem querer, movidos por uma mesma força; o comprometimento com a letra das músicas.
E é principalmente dessa “sutil” diferença que tratarei aqui nesse blog. Essa diferença que para mim é o que grita ainda alto em meus ouvidos quando ouço músicas demasiadamente despretensiosas.
Não tenho a intenção de ser redundante e trazer apenas informação sobre a ditadura militar. Mas pretendo falar sobre a música atual, usando como pano de fundo o que já foi produzido de mais valioso para o acervo da música popular brasileira.
Falar que compositores como Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil marcaram época e que Gal Costa, Elis Regina e Nara Leão interpretaram perfeitamente as canções compostas por eles seria ressaltar algo muito discutido e sentido por qualquer ouvinte da música brasileira.
Mostrar o outro lado da moeda, o que ouvimos por aí nos dias de hoje, nos bares, nas rádios, na TV e na internet é que será meu grande desafio...