domingo, 21 de abril de 2013

Ná Ozzetti



Ela emociona com sua voz impecavelmente afinada e boa escolha do repertório. Seja em parcerias com Luiz Tatit ou André Mehmari. Não se movimenta muito no palco. Sua performance? Seu canto.

É uma das poucas cantoras da vanguada da MPB que continua produzindo música de qualidade e se apresentando pelo Brasil.

A cantora Ná Ozzetti fala em entrevista exclusiva para o site Tabletes Culturais sobre o trabalho atual, cita mulheres que admira na arte que nutrem seu trabalho e opina sobre a música brasileira produzida atualmente:

Há muitos valores no Brasil, que não são devidamente reconhecidos pela importância que têm”.

Seu último trabalho foi "Balangandãs", que ganhou o primeiro lugar da categoria de "melhor cd pupular". É esse último CD que você apresenta em shows atualmente?

O meu último CD é o Meu Quintal, lançado em 2011. Tenho apresentado shows referentes a este CD, que tem canções novas, a maior parte delas autorais. Independentemente deste CD e de outros projetos futuros, pretendo continuar apresentando o Balangandãs por muito tempo, pois trata-se de uma homenagem e de memória. Acho importante tocarmos canções deste repertório nos dias atuais, obras dos anos 1930, 40, 50, de Ari Barroso, Assis Valente, Synval Silva, Dorival Caymmi, entre outros, e relembrar as interpretações mais que perfeitas da Carmen Miranda.

Sabemos que o seu trabalho com Luiz Tatit rende bons frutos desde muito tempo, quando e como começaram a trabalhar juntos?
Nos conhecemos em janeiro de 1979, quando entrei no grupo Rumo, grupo em que ele foi um dos idealizadores. De lá para cá, mesmo em carreiras solo, continuamos trabalhando juntos em diversas outras situações.

Como surgiu a parceria com André Mehmari?
Em 2004 o André me convidou para participar com ele do projeto chamado “Piano e Voz” do Unimúsica, na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), em Porto Alegre.

Foi tão bom que decidimos gravar um CD, lançado em 2005, que acabou rendendo mais uns três anos de trabalho juntos e um DVD lançado em 2006.

Você ainda faz apresentações com ele?
Desde 2008 temos estado, cada um de nós, muito envolvidos com nossos trabalhos individuias e outros projetos, então as apresentações têm sido menos frequêntes. Mas sempre que surge uma oportunidade de tocarmos juntos é maravilhoso.


Que tipo de influência, mulheres que você sempre homenageou, como Carmen Miranda e Rita Lee execeram na sua carreira?
Fico encantada com a luz dessas mulheres. São absolutamente geniais e singulares, além de serem artistas completas, multitalentosas. Incluo aqui a Rita Pavone, meu primeiro amor nas artes.

Quanto à influência que exerceram na minha carreira, não sei dizer, eu apenas as amo e acabo de alguma forma me nutrindo dessa arte.

O que você acha da música popular brasileira atual?
A música brasileira continua exuberante, à exemplo de nossa grande diversidade cultural natural.

Vejo que hoje há espaço para todos. A internet facilita a divulgação e a produção independente cresceu, amadureceu e se proficionalizou nos últimos anos, o que torna tudo mais democrático.

Então vejo uma diversidade cada vez maior, com a qualidade que nos é peculiar.

As novas gerações de músicos também têm encontrado mais chances de estudarem, se aprofundarem no conhecimento musical.


Quais são os valores deixados para trás importantes para a produção da música brasileira de qualidade?
Apesar da minha resposta anterior, com relação à uma divulgação mais abrangente, vemos que os valores têm sido, nas últimas décadas, determinados muito em função do poder mercadológico voltado para grandes números. Há um grande espaço na mídia convencional praticamente focado naqueles que estão gerando maior lucro e que acabam tendo maior investimento monetário em suas carreiras. Não estou desmerecendo a qualidade desses artistas, aliás tem coisas aqui que eu realmente gosto. Apenas acho empobrecedor para a cultura de forma geral, a forma como a mídia fica vinculada apenas aos valores determinados pela indústria cultural.

Acho que devíamos cuidar melhor do nosso patrimônio cultural, que é o ouro que muitos brasileiros desconhecem hoje. A obra deixada por Villa Lobos, Tom Jobim, Vinícius, Baden, Ari Barroso, Caymmi, entre tantos outros, além dos grandes que continuam produzindo, é de um valor sem fim. Além disso as gerações posteriores e as novas têm continuado o legado deixado por eles. Há muitos valores no Brasil, que não são devidamente reconhecidos pela importância que têm.

Quais outras cantoras, na sua opinião, fazem o mesmo tipo de trabalho hoje?
Acho bacana quando os artistas seguem suas particularidades e vão traçando caminhos próprios. Nesse aspecto há muitas cantoras que admiro, de diferentes gerações, como a Virginia Rosa, Adriana Calcanhoto, Marisa Monte, Monica Salmaso, Cassia Eller, Zelia Duncan, Marina Machado, Ceumar, entre outras, e das novas cito Mariana Aydar, Céu, Tulipa Ruiz, Patricia Bastos, Tatiana Parra, Maria Gadu, entre outras...

 Já existe um próximo projeto de CD ou novo formato de show?
Sempre há novos projetos. Já estou pensando neles, tanto para show como para CD.

Qual a sua maior inspiração para compor? E para cantar?
A inspiração depende muito do que estou fazendo naquele período. Já me inspirei em diversas outras formas de arte, como a dança, o cinema, para compor uma música.

Para cantar, o que me toca e sempre me tocou, são grandes cantores. Quando ouço um cantor, geralmente fico com muita voltade de cantar também. Mas já cantei muito inspirada certa vez, depois de assistir o Kazuo Ohno dançar...



segunda-feira, 8 de abril de 2013

Nando Reis - O disco como pensamento



Nando Reis já lançou 10 discos na carreira solo, em um ainda era baixista do Titãs. Ele parece ter trilhado muito bem sua vida musical, seja com os Titãs, com Os Infernais ou com diversos parceiros que conquistou ao longo dos anos.

Mesmo nunca tendo sido um cantor estilo pop star (apesar de fazer um pop que consegue perfeitamente se encaixar na MPB), sempre teve sucessos, alguns hits foram tocados em novelas e ainda estão (neste ano) entre as mais ouvidas no último verão. Pois é, even though ele foi dispensado pela Universal Music: "Eles me chamaram e disseram que eu não era mais lucrativo para a gravadora".

Os sucessos continuam e o seu mais novo disco "Sei" está sendo vendido. Como? Em seu site. Nando viu-se sozinho nessa luta que é vender CD's: "As pessoas não devem achar que o disco é uma coisa desprezível. O disco é um pensamento: o som, a relação interna das músicas, a sequência".

É engraçado essa coisificação da música, sobretudo do artista, que passa a ser ou não um cifrão. Ok, nenhuma novidade até aqui. Mas Nando Reis entrou na brincadeira e precificou seu CD ao invés de o transformar em lucro para alguma outra gravadora. Toda semana o valor do disco varia de acordo com o preço que as pessoas julgam valer. fez questão de coisificar seu novo disco "Sei", lançado no primeiro semestre de 2012. O estilo "vale o quanto pesa" parece ter dado certo, o novo single já chegou a 10.000 cópias vendidas.

Seria esse o caminho do meio para artistas e seus fãs, que não mais querem pagar por quantias exacerbadas de CD's e DVD's mas também não querem prejudicar os próprios ídolos?

Em uma entrevista concedida para o jornalista Marcus Preto, no Espaço Revista Cult, em São Paulo, Nando Reis contou inúmeras histórias curiosas sobre sua carreira, que se misturavam com as histórias de suas canções. O disco para ele é tão importante quanto cada música: "Eu faço músicas porque preciso de músicas para fazer o disco". Como disse Nando, a sequência das músicas acrescenta mais do que ouvir as faixas separadamente.

A intensidade de suas músicas se refletia sobre seu discurso da venda de discos: "Eu tenho que defender o meu mercado de discos, uma das coisas que mais me incomodava era a eterna discussão do preço que eles (gravadora) iriam colocar para vender. Não seria melhor vender trinta a dez?".

E foi esse processo de precificação que Nando Reis seguiu. Em seu site as pessoas dizem o quanto vale o seu CD, que já chegou a 10 mil cópias.

Nando tem uma carreira sólida com músicas sem refrãos e sem a repetição desenfreada nas rádios, mas que viraram hits. Sem muito jeito de falar com o público, segundo ele mesmo, o músico prefere tocar em um show intimista a fazer um mega show.

Sei

"Há uma coisa central nesse disco, ele reflete um período, há similaridade de enfoque ou de pensamento. A maneira como eu trato, que eu consigo me relacionar. Eu fiz 50 anos agora, eu precisava de novas cores, ele é repleto de novas cores". Uma das músicas é Back in Vânia, que Nando fez para sua mulher.

http://nandoreis.uol.com.br/

Back in Vânia

"Vania é minha mulher, com quem eu casei de novo. O título dessa música foi uma referencia à música "Back in Bahia" do Gilberto Gil. Uso a célula rítmica do Back in Bahia, propositalmente, como uma analogia de voltar a uma terra, no caso ele estava voltando para a mulher dele, com que teve quatro de seus cinco filhos".

Composição

"Quando eu escrevo músicas eu tenho necessidade de falar algo para alguém, mesmo que esse alguém seja um pretexto para esclarecer a mim próprio. Mas a pessoa para quem escrevo tanto faz porque a Vânia vira uma terceira pessoa, a pessoa se dilui na música".

Nando sempre escreve para alguém, mas sobretudo sobre os seus sentimentos, sem pensar no significado que isso vai ter, na história da música. É sentimento por sentimento. Deve ser por isso que sempre tem tanto significado para as pessoas, como no caso de "Relicário", que nunca tocou no rádio e é cantada em uma só voz em seus shows.

Vozes femininas

"A voz feminina é a coisa que mais me emociona, isso deve ter a ver com a minha mãe que era professora de violão e cantava, a voz da minha mãe e a voz da Gal, Bethânia tem uma importância na minha vida"

Cássia Eller- "Em 1997 Cassia me convidou foi tudo o que eu queria". Antes de Nando, Cássia Eller não cantava o que gostava, ainda não era conhecida. Ela o convidou para produzir o disco "Com você meu mundo ficaria mais completo". Se tornaram amigos e a música "All Star" foi feita para ela.


Marisa Monte - Uma de suas mulheres, quando eles namoravam Nando fez a música "Diariamente" para ela: "foi uma declaração de amor: para fazer o que você gosta, diariamente". Mesmo com inúmeras parcerias de composição e da vida, ele confessou que ainda sonha em gravar alguma coisa com a cantora.


Gal Costa- A musa inspiradora. Nando era apaixonado pela baiana. Um dia ele foi pequeno no show de Gal e ela disse: "Você tem uma cara de intelectual", ele quase morreu.

A valorização da voz feminina deve ser o motivo de casar tão bem as vozes com a Roberta Campos e Ana Cañas nas músicas "De janeiro a janeiro" e "Pra você guardei o amor".






Ficamos no aguardo de mais uma parceria de duetos que casam perfeitamente, com a Vania, com a Marisa, a Ana, a Roberta, com ele mesmo.